quinta-feira, 30 de abril de 2009

virada, virando

2007. assisti apenas um show na virada cultural. racionais mc's na praça da sé. precisa dizer mais? quase tomei umas garrafadas e acompanhei os malucos subindo em bancas e prédios, barbarizando, e depois a polícia tocando o terror. foi intenso e inesquecível.

2008. trabalhei na virada fazendo (pequenas) entrevistas pra organização (nunca vi o resultado; houve?). eu e um câmera, das 6 da manhã até às 6 da tarde. vi pedacinhos de shows, andei bastante e conversei com figuras como dona ivone lara, nelson sargento, hamilton de holanda, danilo brito, pepeu gomes, tonico, eduardo gudin, théo de barros, costa a costa e lá se vai a memória escorrendo pelos dedos...

2009. o que será que será? só hoje tô vendo a programação... tem arrigo barnabé tocando clara crocodilo, egberto gismonti tocando alma e tom zé tocando grande liquidação (teatro municipal), instituto, thalma de freitas, bnegão e carlos dafé cantando tim maia racional (av. são joão), um bailão com benito di paula, luiz ayrão, wando, bartô galeno, reginaldo rossi, odair josé & etc. (largo do arouche), tutti frutti, camisa de vênus, vanguart, nação zumbi e nasi (praça da república), anelis assumpção, iara rennó, curumim, rockers control e comadre fulozinha (largo santa ifigênia), música instrumental (conselheiro crispiniano), trio mocotó, clube do balanço, os opalas e sambasonics (av. rio branco), e muitos etc. nem idéia do que vou conseguir assistir.

no entanto, uma certeza: o grupo de fotografia do gafieiras (um salve pro manos jeff, ângulo e cia.) estará no largo do arouche acompanhando e registrando o bailão popular. é nozes!

p.s.: fiquei pensando depois sobre o palco são bento, célebre nascedouro do rap paulista/brasileiro... tá lá que o thaide vai apresentar grupos de b-boys e rap. mas pelo que se vê ali não tem ninguém conhecido. o rap continua sendo esvaziado, ainda de "castigo" pelo racionais-praça-da-sé de 2007. no ano passado, o "palco do rap" foi transferido para o parque dom pedro, um lugar longe da maioria dos eventos centrais e o único altamente policiado (com revista e etc.). lá no blog per raps tem uma reportagem muito boa que pergunta "onde está o rap na virada cultural?"

quarta-feira, 29 de abril de 2009

pa ra ra ti bum bum bum

não consegui ir nos shows que a ná ozzetti fez nos últimos anos com o repertório da carmen miranda (1909-1955), mas acabei de receber um e-mail da gravadora mcd avisando que o disco balangandãs será lançado no final de maio (e já estão disponíveis no hotsite do disco alguns trechos deliciosos). boa coincidência porque agora, no começo de maio, sobe no gafieiras a entrevista que fizemos com a cantora em seu sítio nos arredores de jundiaí (sp). segue um trechinho em que ná fala sobre carmen.

"Já na faculdade entrei no
Rumo, e aí não tinha como fazer uso dessas escolas porque era o canto falado. Quando não era canto falado era o Rumo aos antigos, que me levou a ouvir as cantoras antigas. Foi assim que conheci a Carmen Miranda mais a fundo e fiquei fascinada. Pra mim era uma incógnita aquele jeito de cantar, aquela pegada sambista cheia de graça e malandragem que ela tinha. Descobri que tinha mais facilidade pra imitar a Carmen Miranda do que pra imitar a Elis Regina, por exemplo, ou a Maria Bethânia, porque elas tinham uma outra natureza de voz e minha voz se aproximava mais da brejeirice da Carmem Miranda. Então comecei a perceber essas coisas de pra onde rendia mais a minha voz. No Rumo parei de ter como referências as outras cantoras que tinha até então. Tinha um pouco da Carmen Miranda pra cantar o Rumo aos antigos e nas outras, do Rumo, era a Ná mesmo, nua e crua, porque não tinha referência nenhuma de músicas que lembravam músicas do Rumo pra tentar cantar igual."


foto utilizada como base para a capa de balangandãs

terça-feira, 28 de abril de 2009

sim, me rendi

isso mesmo. depois que @flaviadurante falou do esforçado no twitter e do consequente aumento de visitas hoje... foi uma espécie de pá de cal na minha resistência ao passarinho. pronto. entrei na parada. seja o que o twitter quiser. qualquer coisa tô lá também no @dafnesampaio e vamo que vamo.

da mata, de paraty

faz tempo que o especial multishow ao vivo - vanessa da mata foi gravado. foi numa quinta mezzo nublada no final de novembro do ano passado, em paraty (rj). clima ótimo na platéia, dividida entre locais, turistas gringos e hippies malucos. escrevi uma reportagem na monet de abril, que segue aí logo abaixo, e o especial finalmente estreará na próxima quinta, dia 30, no multishow, às 22h15 (e com desdobramentos em cd e dvd).

foi o primeiro show que vi de
vanessa da mata e mesmo tendo gostado muito do disco
sim (sonybmg, 2007), base de todo especial, não esperava que fosse ser tão bom. pegada, leveza, arranjos ótimos e a participação especialíssima da dupla jamaicana sly & robbie.


VANESSA DA MATA DE PARATY

Motores de popa sumindo no horizonte, cascos de cavalo trotando em calçadas centenárias e um tranquilo martelar em frente a Igreja de Santa Rita. Estes eram alguns dos sons ouvidos por quem chegava na histórica cidade de Paraty em uma quinta-feira aparentemente normal lá pelo final de novembro de 2008. Mas de normal aquela quinta não tinha nada: não é todo dia que é possível assistir e participar da gravação de um especial para TV, mais precisamente do
Multishow Ao Vivo – Vanessa da Mata. Ao longe, um carro de som chamava a população para o show de fim de tarde.

“Tenho uma história longa com Paraty. Conheço os bolos, os tiozinhos dos bolos, os cafés, as ruas todas, tenho realmente uma relação com a cidade. Foi perfeito. Tinha a ver com a minha carreira, céu aberto, barroco brasileiro de arquitetura, todo mundo na rua, meio interiorzinho, nada de 45 mil pessoas. Precisava de uma coisa mais poética mesmo, mais acolhedora”, explicou Vanessa em conversa por telefone tempos depois do show. E a cidade a acolheu com sua mistura de turistas estrangeiros, malucos vendedores de pulseirinhas e nativos de toda a sorte, além de um céu bonito, mesmo que parcialmente nublado. Gente que foi chegando de mansinho faltando mais de uma hora para o início do show.

Todo mundo já estava no palco ensaiando, desde a própria Vanessa até seus convidados jamaicanos (Sly & Robbie), quando a platéia começou a reagir calorosamente como se o espetáculo já tivesse começado. Vanessa sorria de vermelho com a certeza que assim o clima só poderia melhorar. “Você vê gente de todas as idades e estilos na minha platéia. Adoro isso. E isso sou eu, é o meu reflexo. Porque sou mestiça de italianos, negros e índios. Pelo lado do pai uma família mais abastada e super humilde pelo lado materno. Os dois lados musicais pra caramba. Tenho uma empatia com as pessoas e, de repente, não é à toa.” Atrás dela, no fundo do palco, uma cacofonia de espelhos, imagens e flores formavam o cenário enquanto o dia virava noite e todos corriam para que Vanessa, uma das cantoras e compositoras mais populares da recente safra musical brasileira, pudesse dar o pontapé inicial.

Quando foi anunciado o início da gravação, o público foi pego de jeito pelo carisma brejeiro de Vanessa da Mata. O repertório do show, que também sairá em CD e DVD, é quase todo baseado no disco
Sim (2007). Deste terceiro álbum da artista vieram novos hits para sua coleção, tais como “Boa Sorte/Good Luck”, “Amado”, “Pirraça” e “Ilegais”, que, juntos com “Ai Ai Ai”, “Não Me Deixe Só” e das suas bem sucedidas regravações de Caetano Veloso (“Eu Sou Neguinha”) e Chico Buarque (“História de uma Gata”), formaram um bloco coeso e cheio de apelos. Ninguém ali na praça escapou de cantar todas as músicas, até as menos conhecidas, em coro emocionado e feliz. “No início da minha vida musical as pessoas falavam que eu não ia fazer sucesso porque minha música era sofisticada demais para entrar no rádio. Gosto de repetir essa história porque as pessoas gostam de criar moldes e, ao mesmo tempo, acham que o público é burro. Nunca desejei cantar para uma elite, sempre quis cantar pra todo mundo, bicho. Agora, não sei como isso se tornou popular. Acredito que as pessoas sentiam falta de alguma coisa assim. Mas fico um pouco passada com a situação, não acredito muito.”

A noite veio comendo pelas beiradas históricas de Paraty enquanto as músicas iam sendo tocadas, ovacionadas e, raramente, refeitas. “Absurdo”, uma canção de levada ecológica, foi uma das poucas que teve que ser repetida porque Vanessa invariavelmente chorava. O público? Sempre com ela, sem nunca exagerar ou soterrar sua voz. Nada de gritos, isqueiros ou objetos voadores rumo ao palco. Apenas carrinhos com pé-de-moleque e cocada, balões rumo ao céu e crianças brincando de sombras com um dos holofotes. Muito colorido? E olha que no final do show, quando Vanessa cantou “Ai Ai Ai” pela segunda vez começou a chover exatamente na hora dos versos “o que a gente precisa é tomar um banho de chuva”. Delírio geral, bicho.

Pausa para a chuva diminuir. Enquanto isso, uma senhora cola no repórter e pergunta se o show acabou porque deseja entregar um livro religioso para a cantora. “Adoro o cabelo dela!”, revela. Mas aí o show volta com Vanessa cantando Cartola (“As Rosas Não Falam”) e logo depois a chuva retorna mais forte. Cai o pano. “Nasci numa cidade de 8 mil habitantes e ficava louca pra ir embora, queria fugir com o circo, com os ciganos, com qualquer coisa. Ficava imaginando pra onde aquelas pessoas estavam indo, como devia ser o lugar delas, tudo. Sempre tive muita sede pelo mundo.” Dá para arriscar que o mundo também tem sede por Vanessa da Mata.


AMIGOS DA JAMAICA

Tem dois sujeitos presentes no video acima que não fazem parte da banda de Vanessa. Na verdade, são convidados muito especiais do show. O baixista Robbie Shakespeare (de boné) e o baterista Sly Dunbar são lendas vivas (e muito ativas) do reggae jamaicano. Músicos e produtores, os dois formaram na década de 1970 a dupla Sly & Robbie que tocou ao lado de figuras como Peter Tosh, Gregory Isaacs, Horace Andy, Barrington Levy e a banda Black Uhuru, ao mesmo tempo que produziam discos de outros artistas e os próprios a partir do selo Taxi. O All Music Guide estimou que os dois participaram, de um jeito ou de outro, de cerca de 200 mil músicas (sim, esse é o número!). Destaque para os discos
Taxi Fare (1986), Two Rhythms Clash (1989) e Dubs for Tubs: Tribute to King Tubby (1990), todos da dupla. Uma boa dica para ouví-los é o blog You & Me on a Jamboree, especializado em reggae.

Vanessa da Mata e os produtores do disco
Sim, a dupla Kassin e Mario Caldato (também responsáveis por esse Multishow Ao Vivo), foram atrás da dupla lá em Kingston, Jamaica, em busca de uma sonoridade moderna e malemolente. Acharam muito mais que isso, obviamente, tanto que foram chamados para uma participação neste especial. Sly & Robbie colocaram seus instrumentos nas músicas “Vermelho”, “Pirraça”, “Absurdo”, “Ilegais” e “Boa Sorte/Good Luck”. Curiosidade: quando chegou em São Paulo, aos 16 anos, Vanessa fez parte de uma banda feminina de reggae chamada Shalla-Ball e 3 anos depois, em 1995, excursionou como backing vocal da Black Uhuru, a mesma que Sly & Robbie produziu na década anterior. As voltas que o mundo dá...

twitter, esse mistério

já entendi o uso do twitter. quer dizer, acho. sei que não entendi pra mim, por isso ainda não tenho. fico me perguntando: mais uma coisinha pra login; pra atualizar; pra coisar; pra sei lá. dá uma preguiça. o esforçado não tem três meses (7 de fevereiro) e só agora estou pseudo-começando a entender. tem chão pela frente até conseguir fazer desses espaço um lugar de encontro e discussões nas janelas de comentários. sei que isso depende mais de mim do que de quem visita. mas queria falar do twitter, esse mistério, e acabei me perdendo.

é que ontem (hoje, na verdade, pois era 1 da manhã) cheguei em casa após uma boa reunião do gafieiras, entrei na internet para checar e-mails e dar uma olhada aqui. qual não foi minha surpresa ao entrar no programa que acompanha as visitas no blog (webstats) e ver que apareceram umas 30 pessoas entre meia-noite e 1 das manhã. 30! e em tão pouco tempo! fui procurar saber de onde poderiam ter vindo (algum link, em algum lugar) e vi que pelo menos metade veio através do twitter. mas catso! não tenho twitter! como aconteceu isso? alguém citou o blog no twitter? aliás, se alguém souber me avise, por favor.

por isso estou aqui pensando sobre o passarinho (afinal, quero que as pessoas apareceram por aqui, pelo gafieiras, etc.). será que terei que dar o braço a torcer? será bom? tuitar ou não tuitar, eis a questão.

p.s.1: só espero que isso não esteja relacionado a novela das 7.

p.s.2: olha. acho que resolvi o mistério. foi flávia durante, a incansável. ela escreveu, há cerca de 11 horas, o seguinte: "o blog do dafne sampaio tá super legal e eu não tinha assinado o feed ainda. vou corrigir esse erro agora!". e como a moça tem 4 mil (!!!) seguidores... valeu, flávia!

quinta-feira, 23 de abril de 2009

e a viva jovem guarda

pois então, a vida segue e o itaú cultural pôs na rede um interessante especial sobre a jovem guarda. é fruto desse projeto do itaúbrasil pr'os 50 anos de carreira de roberto carlos. em um site bonito, mas de navegação meio truncada e com espaços pequenos para os textos, é possível ir de uma rádio pra uma galeria de fotos, e então para uma série de videos com entrevistas (jerry adriani, martinha, wanderley cardoso, etc.) e biografias, além de textos de gente boa como alexandre matias, fernando rosa, ricardo alexandre e alberto villas, entre outros(as). mas dando uma bizoiada no site senti falta do mestre paulo sérgio (1944-1980), provavelmente porque ainda é considerado um imitador do homenageado. qual o quê!



"eu te amo, eu te venero" (paulo sérgio e carlos alberto), lançada originalmente em 1978 e portanto muito distante do auge da jovem guarda, é só uma das muitas pauladas do conterrâneo de roberto carlos (sim, paulo sérgio também é capixaba). no final da década de 1960, paulo sérgio era o maior rival do rei em vendas de discos e shows. pena que não achei nenhum video das minhas preferidas: "eu não sei, eu não sei, eu não sei", "não creio em mais nada", "preciso acreditar", "você não presta", "preciso esquecer você" e "desiludido". peguei esse video no site paulo sérgio in memorian (tentei colocar o link direto, mas não tá rolando, mistério). no mais, vale a navegada.

p.s.: e pra vocês verem como são as coisas... fiquei sabendo agora, sábado, que o mano tacioli do gafieiras fez os roteiros da rádio e as entrevistas com o povo jovem guarda. taí outro defeito do site: não existem créditos, além de não existir nada próximo de um release e muito menos alguma observação se o projeto está em progresso ou se é isso mesmo que tá no ar. vai entender.

outro minuto de silêncio

mais uma perda daquelas pra cultura brasileira. o fotógrafo otto stupakoff morreu ontem, aos 73 anos, em seu flat aqui em são paulo (nota na folha). estive com ele em 2007 pruma matéria da tam magazine, uma das últimas que fiz pra revista e uma das primeiras que postei aqui no blog. tá aqui.

mais uma lágrima.

um minuto de silêncio (com atraso)

fiquei sabendo ontem que seu antônio vieira morreu. mas o que me entristeceu não foi a morte do veterano autor de doces crônicas das ruas de são luis do maranhão - o autor de "cocada" e "banho cheiroso" tinha quase 89 anos -, mas sim a falta de notícias sobre seu falecimento (o imparcial foi o único a dar em tempo e a amiga roberta valente, do agenda do samba & choro, replicou uma semana depois). porra, ele morreu em 7 de abril! o gafieiras entrevistou mestre antônio em 2004 quando passou por são paulo para um show ao lado do baiano riachão. conversa boa, leve, repleta de cheiros do passado... essa é uma das fotos que tirei no dia...

"Meu tempo era esse mesmo. Agora eu digo uma coisa sem a vaidade: eu sempre acreditei no meu trabalho, porque as pessoas que entendiam de música, diziam, “Tem talento”. O maestro Copinha, que já morreu, flautista, uma vez olhou meu trabalho, uma composição chamada “Poema para o azul”, disse: "Meu filho, pare aí que eu quero te acompanhar!". Pegou a flauta. Fui cantando e ele fazendo contracanto. Ele disse: "De quem é essa letra, meu filho?" Eu digo: "É minha". "De quem é essa música?" "É minha." "Você é um compositor do Brasil. O Brasil ainda vai conhecer o seu trabalho." Copinha é um grande músico, né?"

na rádio uol dá pra ouvir algumas das músicas de seu antônio vieira. mas falando em perda, e na importância dos registros do gafieiras, lá no myspace foi colocado um trecho da entrevista com o sivuca.

isso aqui tá bom demais

joaquim barbosa, o cara X gilmar mendes, o ##%$$&$#$$



o melhor é que a grande mídia teve que dar a notícia e foi obrigado a divulgar o ministro joaquim dizendo que gilmar não está nas ruas, está sim é na mídia. tcharam! obviamente, os outros ministros divulgaram nota apoiando o presidente do stf. pelo menos não deram advertência a joaquim. pense num escândalo. no globo.com, por exemplo, a grande maioria dos comentários foi de apoio a joaquim. vai pensando que é boy, gilmar... vai pensando que tá falando com seus capangas do mato grosso...

p.s.: que horror a risada nervosa e cheia de dentes de gilmar (1:40).

terça-feira, 21 de abril de 2009

suspenderam os jardins...

logo que se começa a entrar na floresta do documentário um nome aparece com frequência. um sobrenome, aliás. maysles. de albert maysles. de david maysles. eles são autores de um dos marcos fundadores do moderno cinema documental, salesmen (1968, que ainda não vi, tá aqui na fila). ficaram famosos pelo igualmente genial (e tenso) documentário musical gimme shelter (1970), aquele dos rolling stones em altamont, com direito a hell's angels alucinados assassinando um sujeito e george lucas entre os câmeras. albert maysles foi câmera de outro clássico do gênero, primárias (1960) de robert drew, e correu atrás dos beatles, em 1964, em sua primeira e célebre turnê nos estados unidos (o material foi compilado anos depois em the beatles: the first u.s. visit).

um outro longa deles acabou de sair em dvd aqui pela videofilmes (que já colocou salesmen no mercado). lançado em 1975, grey gardens é um pedaço da história de uma mãe (edith, 1896-1977) e uma filha (edie, 1917-2002). tia e sobrinha de jackie kennedy onassis. excêntricas, falidas e sozinhas em uma grande casa nos hamptons (balneário dos endinheirados de manhattan), mãe e filha se batem entre o passado cheio de sonhos e glamour e o presente confuso e triste. os maysles acabam discretamente participando de um festival de recriminações, chantagens emocionais de alta carga, falas entrecortadas dignas de filmes de orson welles ou robert altman; e tudo sob um clima exasperante e sem respostas fáceis. f-o-d-a. olha o trailer do filme que tem sua direção ainda creditada às editoras ellen hovde, muffie meyer e susan froemke.



é que sábado passado estreou na hbo norte-americana uma versão ficcional dessa história (passará na hbo brasil no dia 15 de junho, 19h). dirigido pelo estreante michael sucsy, e roteirizado pelo próprio em parceria com a canadense patricia rozema (que foi promessa na década de 1990 como diretora de filmes como quando a noite cai), o longa grey gardens (2009) pode facilmente cair no melodrama psicológico de hollywood, mas confesso que quando vi esse promo que tá aí logo abaixo fiquei impressionado com drew barrymore como edie. ah, jessica lange é a mãe, edith. e no usa today tem um texto ótimo sobre a versão 2009 dessa saga familiar.



em tempo: aos 82 anos, albert maysles continua na ativa. agora está envolvido em um documentário sobre o artista plástico keith haring (1958-1990), como diz sua página no imdb. david maysles morreu em 1987. a história da mãe e filha ainda rendeu outro filme (the beales of grey gardens, 2006), com material não utilizado no original. ainda em 2006, grey gardens virou um musical de sucesso na broadway (a primeira e única vez até agora que um musical foi adaptado de um documentário).

domingo, 19 de abril de 2009

domingueira

ah, os mulheres negras. como gosto desses caras. não lembro como os conheci, mas morava em ribeirão preto na época, final da década de 1980, começos dos 90. lembro também de uma minissérie doidona feita pela globo (sampa) que teve trilha assinada por eles. com certeza foram muito importantes pr'uma imagem de são paulo, a cidade, que estava sendo criada na minha cachola, junto com titãs, ira!, ultraje a rigor e novelas da globo como vereda tropical. acho que nessa época não fazia ideia que são paulo seria o meu futuro, a minha cidade. agora, para minha surpresa, e um pouco antes deles anunciarem o fim da dupla, os mulheres negras aportaram em ribeirão preto, acho que em 1991. e lá se fui eu com o mano fernando. puta show. até pouco tempo atrás ainda guardava o ingresso. e tenho, claro, os dois discos: música e ciência (1988) e música serve para isso (1990).

continuei acompanhando a carreira de ambos, e ainda mais de perto depois que vim pra são em 1994. vieram os primeiros discos solo do mauricio pereira e o karnak do andré abujamra, fui em shows e acabei os conhecendo pessoalmente via gafieiras. dois caras muito bacanas, engraçados, francos e nada "artistas", mas confesso que meu interesse pelo pereira se manteve firme e forte, enquanto pelo abujamra foi diminuindo já no finalzinho do karnak (as letras do abujamra, que é um grande músico, começaram a me constranger de alguma forma, principalmente pela ingenuidade de suas mensagens).

agora, com vocês, "sub", uma versão genial e paulistaníssima de "yellow submarine".



p.s.: já ia esquecendo... as entrevistas que mauricio pereira e andré abujamra deram ao gafieiras estão aí nos links.

frase da noite

"a palavra que eu acho mais difícil de falar é adeus, porque é uma palavra de saudade e morte".
miss cotia, uma das cinco finalistas do miss são paulo 2009

sexta-feira, 17 de abril de 2009

notas rápidas

antes de um merecido e muy esperado feriado.

1) o veredito do caso pirate bay foi anunciado hoje e os quatro suecos foram condenados a 1 ano de prisão cada e uma multa de 2.4 milhões de libras. um dos condenados, peter sunde kolmsioppi, já declarou que "nada vai acontecer conosco ou com o site. é apenas mais teatrinho pra mídia". vale a pena ler os comentários de tiago dória, andré forastieri e paulo terron sobre a decisão.

2) hitchcock/truffaut, um dos melhores livros de todos os tempos, em qualquer área, acabou de ganhar uma sobrevida genial. todo o áudio do bate-papo de meados da década de 1960 entre os cineastas (a edição definitiva do livro saiu em 1983) agora está disponível para download. mais precisamente, no blog if charlie parker was a gunslinger, there'd be a whole lot of dead copycats.
vi lá no ricardo calil.

3) mano tacioli entrevistou arlindo cruz pr'uma nota lá no gafieiras.

4) dando sequência às ótimas entrevistas sobre o futuro (o presente e o passado) do mercado fonográfico brasileiro, pedro alexandre sanches está postando agora em seu blog uma longa conversa com joão araújo, o pai de cazuza, o ex-chefão da som livre. já estão disponíveis: parte 1, parte 2, parte 3 e parte 4.

e eu seguirei editando a ná ozzetti, a próxima entrevista do gafieiras.

quinta-feira, 16 de abril de 2009

quarta-feira, 15 de abril de 2009

o samba a persegue

kavita 1 (universal, 2006) provou que mariana aydar, filha do músico mário manga (premê), tinha sim uma voz com identidade, bom gosto e uma indisfarçável predileção pelo samba. se o repertório era bom - de joão nogueira a rodrigo amarante, de leci brandão a giana viscardi, etc. - ainda faltava à cantora um toque mais pessoal que não a limitasse ao mero papel de intérprete (sem julgamentos aqui sobre a questão cantoras compositoras vs. intérpretes). o segundo disco da moça, peixes pássaros pessoas (universal, 2009), vai exatamente nessa direção, sem regravações nas 13 faixas inéditas, sendo que três delas são de autoria da cantora, sob o pseudônimo de kavita.

leia a íntegra da nota sobre o disco de mariana aydar no gafieiras.

segunda-feira, 13 de abril de 2009

pra semana começar bem

correria louca até quinta e muita coisa pra acontecer. é que depois de um começo de ano fraquinho começaram a surgir os primeiros ótimos discos brasileiros de 2009 (já falei lá no gafieiras do novo da maria alcina, confete e serpentina, e da estreia de verônica ferriani). mas acabaram de chegar o novo de caetano (zii e zie) e os encontros de siba & roberto corrêa (violas de bronze) e de guinga & paulo sérgio santos (saudade do cordão), além de romulo fróes (no chão, sem o chão), rodrigo campos (são mateus não é um lugar assim tão longe) e mariana aydar (peixes pássaros pessoas). falarei, calmamente, sobre todos esses discos, mas enquanto isso não acontece - fora a monet e outras paradinhas, estou editando a nova entrevista do gafieiras, mais precisamente da ná ozzetti - separei aqui uma música que já entrou na minha lista pessoal de melhores do ano. é "beleza" (luisa maita e rodrigo campos), um dueto de mariana aydar com a caboverdiana mayra andrade.



e olha que ainda tem novidades de anelis assumpção, thalma de freitas, nina becker, jumbo elektro, etc.

p.s.: já ia esquecendo. dois trechos da vindoura entrevista com a ná ozzetti estão no myspace do gafieiras.

domingo, 12 de abril de 2009

domingueira da paixão

da paixão por itamar assumpção. da paixão pelo rap brasileiro. e assim, temos "fico louco" do mestre nego dito entortada e rimada pela dupla xis e thig (relatos da invasão), numa gravação de 2007. segura.

sábado, 11 de abril de 2009

túnel do tempo

dica do amigo zé luiz soares, o zé do villaggio café (grande amigo com quem estou em falta e que é muito responsável por duas das melhores entrevistas do gafieiras, moacyr luz e jards macalé). em um e-mail coletivo ele mandou um link de um site e disse assim: "se os conheço um pouco, vão gostar". assino embaixo. é sítio pra deixar nos favoritos e perder horas.

seguinte (pelo que pude checar assim rapidamente): o radialista beto brito montou em seu site pessoal um projeto chamado as 100 mais em 100 anos, no qual chama o internauta para relembrar as canções que fizeram mais sucesso nas rádios brasileiras de 1904 a 2003 (tá parado desde então, aparentemente). desde 1935, a lista ganha imagens em movimento pelo youtube. que trampo genial! tomara que ele volte a atualizar porque se a memória musical brasileira depender das gravadoras...

aí fiquei me perguntando onde ele tinha conseguido a lista de sucessos ano a ano e cheguei ao hot 100 brasil, site visualmente feio, com pouco mais de impressionantes 10 anos de vida e repleto de informações valiosas sobre festivais, premiações e o bom e velho mercado musical brasileiro. e lá, na seção time machine, as paradas anuais que serviram ao trabalho de beto brito. um trabalho alimentando o outro, além de muitos outros, como tem que ser.
esse povo merecia um prêmio.

sexta-feira, 10 de abril de 2009

injeção de ânimo

cansadão. trabalho na monet na sexta santa. comi picanha no shopping continental, só de zuêra. aí ouço essa "bajii" do hypnotic brass ensemble (do disco the brothas, 2008, que o mano gian marco trouxe de presente lá de nyc, valeu demais!).



ahhh. vou ali beber com carolina, uns brothas e sistas.

quinta-feira, 9 de abril de 2009

benicio e a sacanagem

na edição de setembro de 2008 da monet escrevi um perfil ligeiro sobre o grande, o eterno, o genial benicio, o norman rockwell (1894-1978) brasileiro, o maior autor de cartazes do cinema nacional (a deixa era o aniversário de 10 anos do canal brasil). figuraça de voz mansa e pensamento cristalino, benicio é um artista profissional, avis rara em um mundo de poses e famas vazias. do alto de seus 72 anos, o gaúcho-carioca segue trabalhando a todo vapor para revistas como época sp e rolling stone, além de ser autor das capas dos dois discos do moptop. detalhe: pensei no título agora porque o original, "10 anos de festa", só tinha a ver com a revista.

histórias que nossas babás não contavam (1979), de oswaldo de oliveira, com adele fátima (clara das neves) e costinha (caçador)

NO REALISMO DAS CURVAS


Benicio e o Canal Brasil são inseparáveis. Duvida? Autor de mais de 250 cartazes de cinema, principalmentem entre os anos de 1968 e 1989, o ilustrador gaúcho José Luiz Benicio da Fonseca criou todo um imaginário de sensualidade, realidade e bom humor que há dez anos serve como base para a programação do Canal Brasil. Pornochanchadas, dramas, comédias, todos os gêneros imagináveis feitos no país já passaram por seus pincéis. E imaginar que, por pouco, Benicio não foi pianista profissional. Chegou a ser contratado pela Rádio Gaúcha e tocou na célebre Rádio Nacional. Mas na década de 1950, ele descobriu que não era notívago, muito menos boêmio, e abraçou de vez o desenho que já encarava como profissão. Hoje, aos 72 anos e ainda em plena atividade, coleciona números impressionantes, tais como 2 mil capas de livros, e a fama de mestre.

“Olha, o grande barato nessa vida é fazer aquilo que se gosta. Sempre quis desenhar, sempre gostei, e ainda sinto prazer mesmo com mais de 50 anos de profissão. Sobre esse lado do meu trabalho [dos cartazes] tenho um carinho especial porque qualquer ilustração grande me encanta”, afirmou Benicio em conversa por telefone. Seu primeiro cartaz foi do thriller policial Os Carrascos Estão Entre Nós (1968), de Adolpho Chadler, no qual utilizou elementos que faziam sucesso em suas capas de livros de ficção popular: espionagem, aventura e erotismo. Este cartaz serviu como uma consolidação do talento, artístico e comercial, do gaúcho.

Logo vieram novas encomendas, quase sempre implorando por suas mulheres lindas, insinuantes e seminuas. Por essas e outras belezuras, Benicio foi o artista ideal para ilustrar as comédias ligeiramente eróticas e extremamente populares da década de 1970. Filmes com títulos sugestivos como Lua-de-Mel & Amendoim (1971), A Super Fêmea (1973), Cada Um Dá Que Tem (1975) e A Dama da Zona (1979). “Dificilmente via esses filmes para fazer o cartaz porque quando me encomendavam eles nem estavam prontos. Mas não era fundamental, pois o que funcionava mesmo era a conversa com o diretor ou produtor. O cartaz tinha que contar um pouco a história e chamar atenção, claro”. E depois, Benicio? Nem assistia essas pornochanchadas quanto estreavam? “De vez em quando e mais por curiosidade, mas não era uma coisa que me deixava maluco, não”, e riu meio tímido, meio maroto. “Lembro que gostei de Histórias Que Nossas Babás Não Contavam com aquela mulata linda, Adele Fátima. Achei a história divertida. Pena que a produção era muito precária”.

dona flor e seus dois maridos (1976), bacalhau (1975)
e a super fêmea (1973)

Claro que a arte de Benicio vai muito além desses pedaços de mau caminho. Seu apuro gráfico, a versatilidade e a opção por um realismo minucioso também foram vitrine para filmes de prestígio como Toda Nudez Será Castigada (1973), Dona Flor e Seus Dois Maridos (1976) e Anjos do Arrabalde (1987), bem como o cultuado O Profeta da Fome (1970), dirigido por Maurice Capovilla e protagonizado por José Mojica Marins, o Zé do Caixão.

Por outro lado, o mesmo artista que causava arrepios nos moralistas e na Censura Federal assinou todos os cartazes das comédias infantis d’Os Trapalhões, desde Robin Hood, o Trapalhão da Floresta (1974) até Os Trapalhões na Terra dos Monstros (1989), passando por clássicos como Os Saltimbancos Trapalhões (1981). “É uma outra maneira de trabalhar quando se visa o público infantil. Uso cores mais vivas, mais ação, nada de sensualidade. Nunca fui amigo de nenhum deles, mas o Renato Aragão gostava do meu trabalho e sempre me chamava. Era ele, sempre muito acessível, que ia com mais freqüência nas reuniões para contar a sinopse do filme e apontar quais elementos deveriam entrar no cartaz”.

A partir da década de 1990 com a entrada dos computadores e um uso maior da fotografia, o encontro entre Benicio e os cartazes de cinema foi rareando. Recentemente assinou Pelé Eterno e Casseta & Planeta: A Taça do Mundo é Nossa, ambos em 2004. “Não dá para ignorar o computador e, para falar a verdade, o bom gosto está em qualquer lugar, então está tudo bem”, diz com aquela tranqüilidade de quem sabe o que fez. E, olha, ele fez bem feito.

as grã-finas e o camelô (1976), de ismar porto, com carlo mossy, kátia d'angelo e, de novo, adele fátima

quarta-feira, 8 de abril de 2009

em se plantando, tudo dá

coisas estranhas acontecem neste país. na segunda, dia 6 de abril, o jornalista cláudio júlio tognolli escreveu no site do consultor jurídico um texto sobre "a lista dos jornalistas perseguidos pelo delegado federal protógenes queiroz". no melhor estilo veja-de-jornalismo, tognolli - que era um cara que eu admirava, um jornalista meio gonzo que escreveu o ótimo livro mídia, máfias e rock'n'roll - saiu disparando que 25 jornalistas de renome foram acusados pelo "destemperado" delegado de fazer parte de uma conspiração pró-daniel dantas (dentre eles, quatro da carta capital, incluindo o próprio mino carta que, oras bolas, vivia chamando o banqueiro de "orelhudo").

tal matéria, obviamente, repercutiu rapidamente por esses dias. o "furo" do tognolli (sem duplo sentido, por favor) é baseado em arquivos encontrados no computador do delegado e que não passam de anotações feitas a partir de escutas telefônicas autorizadas legalmente. protógenes pode ter cometido arbitrariedades na investigação sobre dantas, e sobre suas ligações cada vez mais claras com alguns setores da imprensa, mas aí é assunto pra justiça. no mais, o delegado está investigando e não julgando.

só que essa lista foi o bastante pr'um monte de gente berrar que estamos vivendo em um estado policial (onde? meu deus, onde?). para a surpresa de muitos e minha também, até o pedro dória caiu na esparrela do consultor jurídico e, mesmo tendo percebido que se precipitou, ainda não se desculpou (mas publicou na íntegra um e-mail do luiz antônio cintra, um dos "grampeados" da carta capital, que lhe passou uma civilizada descompostura). por outro lado, o idelber colocou a faca nos dentes e saiu descontruindo a tese escalafobética de estado policial.

onde está a verdade? existe um lado certo e outro errado? muito provavelmente não. mas algumas coisas podem ser afirmadas sem medo: 1) existem jornalistas que recebem grana para dar notícias e furos favoráveis a negócios de outrem (daniel dantas, por exemplo); 2) só do jornalista (ou qualquer pessoa) falar com um "suspeito" não o faz cúmplice; 3) o consultor jurídico não é confiável; 4) as cortinas de fumaça vem surtindo efeito e as investigações sobre os negócios de dantas vem sendo jogadas para escanteio; 5) quem acredita em estado policial, em tempos de lula, bom sujeito não é.

e a novela brasil continua.

segunda-feira, 6 de abril de 2009

d'os gêmeos

escrevi um perfil sobre osgêmeos para a tam magazine de outubro 2006. a deixa era “o peixe que comia estrelas cadentes”, a primeira exposição individual dos irmãos-grafiteiros-artistas-plásticos no brasil e em são paulo, a cidade natal. fui na casa-ateliê deles, no cambuci, e fiquei lá por uma hora e meia. simpáticos e extremamente tímidos, otávio e gustavo pandolfo falaram até que bastante, mas acabei não perguntando sobre um assunto que sempre me intrigou: porque eles não possuem um site-blog-canal próprio na rede? porque nem algo simples como o do banksy? por outro lado, acho que essa "ausência" virtual se dá porque eles preferem estar na rua, o que não deixa de ser admirável. de qualquer forma, o site lost art, dos fotógrafos louise chin e ignácio aronovich serve como casa desses irmãos.

ah, agora no dia 24 de abril, no centro cultural banco do brasil lá no rio de janeiro, osgêmeos inauguram uma nova exposição, a primeira na cidade. pelo que deu pra entender é bem parecida com a de são paulo, mas agora traz o título de "vertigem". segue o texto.



 osgêmeos, ontem


osgêmeos, hoje

OSGÊMEOS: AMARELA SEMELHANÇA

Dia de feira, terça, em uma rua do Cambuci, zona centro-sul de São Paulo. Dentro de um sobrado com fachada colorida moram e trabalham os irmãos Gustavo e Otávio Pandolfo, mais conhecidos como Osgêmeos, alheios às ofertas de frutas e verduras. Grafiteiros conhecidos há tempos nas quebradas paulistanas, os irmãos vêm ganhando fama também como ilustradores e artistas plásticos desde que em 1999 começaram a expor na Europa e nos Estados Unidos. Mas Gustavo e Otávio, gêmeos idênticos, nunca deixaram São Paulo e nem o bairro onde nasceram, o Cambuci, e mesmo assim somente agora em 2006 tiveram a oportunidade de emplacar sua primeira exposição individual na cidade (“O peixe que comia estrelas cadentes”, na Galeria Fortes Vilaça).

“Acho que a demora foi pelo fato da cena de arte no Brasil ser um pouco diferente do que estamos acostumados lá fora. Em Nova York tem exposição em galeria com artistas de grafite desde o começo da década de 1980. Aqui é muito novo isso. Mas tudo é uma questão de tempo. A gente nunca foi com pastinha embaixo do braço em nenhuma galeria para mostrar nosso trabalho. E nunca foi nossa intenção também”, explicou Gustavo. Sem titubear, Otávio, um pouco menos falante e com voz ligeiramente mais grave, completou o raciocínio do irmão ao afirmar que “aconteceu no tempo certo porque a gente sempre trabalhou na rua e quem viu a exposição associou logo porque já viu nosso trabalho na rua. É legal esse tempo das coisas acontecerem”.

Enquanto falam, quase sempre um completando a fala do outro, os irmãos rabiscam sem parar, compulsivamente. “Grafite é uma coisa e nosso trabalho de galeria é outra”, levantou Gustavo para Otávio cortar: “são dois mundos diferentes: a rua e a galeria”. Lá fora os feirantes, que conhecem Osgêmeos há 32 anos, concordam em gênero, número e grau. “Grafite é rua, é atuar na rua, e é arte também”, segue raciocinando Gustavo, “já na galeria a única diferença é o tridimensional, é a instalação, a escultura”. Osgêmeos garantem que tanto faz ser uma parede no Cambuci, trens metropolitanos no Rio de Janeiro, um prédio na Holanda ou uma campanha publicitária mundial (como a da Nike que eles fizeram em 2005), não importa, eles se entregam de corpo, alma e sprays a tudo que lhes passa pela cabeça ou que lhes é encomendado.

Sempre foi assim, intenso e compulsivo, desde o início de suas atividades grafiteiras na década de 1980. “No começo a gente estava dentro da cultura hip hop e se espelhava no que vinha de fora do Brasil. Hoje não tem mais nada a ver com hip hop. As coisas mudaram. Fomos buscando outros caminhos, nossos, mais brasileiros”, relembra Gustavo, e tanto é verdade que ambos gostam de citar o Profeta Gentileza e Arthur Bispo do Rosário como artistas-referência, enquanto a paisagem sonora da exposição era permeada por cirandas e maracatus na Zona da Mata pernambucana.

Mas os as personagens de pele amarela, marca habitual dos irmãos e uma espécie de denominador comum do povo brasileiro segundo os mesmos, podem ajudar a melhorar as cidades? São Paulo, por exemplo? “Acho que podem sim, mas a cidade precisa ser organizada primeiro. São Paulo é a cidade mais desorganizada que conhecemos. É uma cidade que ao mesmo tempo tem lei, mas não tem lei”, diz Gustavo. Ambos concordam que além da arte é preciso uma mudança de comportamento: “é importante estar na rua e hoje em dia você não vê mais isso”. Moral da história: retomar a rua para colorir a cidade e vice-versa. E o futuro d’Osgêmeos? “Dentro da nossa cabeça tem algo muito maior do que uma exposição. A gente tem muitas vontades e quer fazer muita coisa”, agora é Otávio quem fala, “mas a gente não sabe o amanhã. Acho que a gente precisa desenhar mais, treinar novas idéias”. É, o futuro é uma parede por pintar.


segue abaixo um video sobre a exposição de 2006.

domingueira de segunda

vixe. esqueci de postar o clipe domingueiro no seu devido domingo. então, com um dia de atraso, surge aqui uma das melhores músicas brasileiras dos últimos anos (na humilde opinião da casa). voz metalizada, bateria cheia de força e balanço, guitarrinha esperta... tudo isso está em "ondas & barcos", canção que é da dupla anthony diego e pauliño, o júlia says, ambos pernambucanos. vamo que vamo.

sábado, 4 de abril de 2009

vou cavalgar por toda a noite...

último post antes de ir pro lançamento da revista samba. estou aqui escutando u can't lurn imaginashun, o disco mais recente do dj vadim, músico e produtor russo, criado em londres e radicado em nova york. casado com a mc yarah bravo, filha de um brasileiro exilado na suécia, o dj ouve bastante música brasileira, como me disse oga, que conheceu o casal durante shows que fizeram em são paulo em junho do ano passado. para provar tal afirmação pincei do disco "beijos", música cantada pela inglesa heidi vogel e que traz samples de "cavalgada" do rei roberto (a base, ainda com os vocais originais, esteve no myspace do sujeito por um tempo).

p.s.: ouvi o disco todinho, algumas vezes, e tá bem bacana. fora "beijos", dj vadim conseguiu acertar a mão também nas faixas "soldier" (com big red e 5nizza), "under your hat" (com kathrin deboer e governor tiggy), "you are yours" (com yarah bravo) e "maximum" (com la methode).


sobre o mito bruno aleixo

faz pouco mais de um ano que bruno aleixo (1957-2008) surgiu na internet. a princípio, o personagem criado pelos portugueses joão moreira, joão pombeiro e pedro santo era um ewok, mas quando saiu da rede para ganhar um programa na tv sic radical precisou virar um misto de cachorro e urso (george lucas bateu o pé?). o trio luso é parte integrante do GANA, guionistas e argumentistas não-alinhados, que possui um canal próprio de comunicação, o CANA, e que se rege pelos seguintes princípios: não-violência física entre membros, violência verbal moderada, conferir sempre o troco, espírito de entreajuda e boa disposição.

na internet, a primeira série do aleixo, "os conselhos que vos deixo", era uma espécie de pílulas de sabedoria deixadas pelo morimbundo. depois vieram "as mensagens que deixo pra você", com direito a um cristo redentor de fundo, e a sensacional "aleixo na escola", que tem um dos meus episódios preferidos. apure os ouvidos para a prosódia portuguesa e rache o bico.



o humor nonsense, incômodo e cheio de silêncios e gírias (portuguesas, com certeza) acabou fazendo um baita sucesso pelas bandas de cá, no que pode ser considerado o primeiro produto cultural português consumido no brasil (na internet, claro esteja) anos depois do roberto leal e do bolinho de bacalhau. eles, por outro lado, já consomem com voracidade nossa música e televisão.

tudo isso me veio a cabeça porque li no terron uma entrevista ótima com o gaúcho marcelo barbosa, que vem trabalhando com os portugueses em uma nova série, "el circo bueno". aí fui dar uma checada no canal que o animador brasileiro tem no youtube e me deparei com o genial clipe de "brega do raparigueiro" do smashing pumpkins. olha só.



enquanto isso, bruno aleixo continua se espalhando pelo orkut, facebook e myspace. mas, opa... já ia me esquecendo... "el circo bueno" é o flagrante de um plágio feito por animadores uruguaios de textos d'o programa do aleixo. claro que é tudo brincadeira dos portugueses. este aqui é o primeiro episódio. já tem outro no site do CANA.

sexta-feira, 3 de abril de 2009

surpresa!

carolina tem dessas coisas. é maria bethânia, paulinho da viola, tom zé, itamar assumpção, eduardo gudin e coisas boas e tal. e de repente, hora pra outra, me aparece com pauladas pop de outras veredas. só assim parei pra ouvir músicas que passariam batido no balaio do dia a dia. exemplos? "impressão digital" de pepeu gomes, "flor do reggae" de ivete sangalo e "ela chorou de amor" de gino & geno. a mais recente veio da novela paraíso, o remake que está no ar, e leva a assinatura da dupla victor & leo. deles só sabia que fazem sucesso pra cacete, são jovens, românticos e um tanto americanos como todos os neosertanejos (também tinha ouvido "tem que ser você" que tava na trilha a novela a favorita e me dava uma certa irritação). sei agora que são mineiros e que victor é o principal compositor e, geralmente, a segunda voz. não muito mais. agora, essa música "deus e eu no sertão" me pegou no contrapé: arranjo simples e bonito com violão e sanfona; vozes discretas; e uma nostalgia sincera. e, olha, se fosse cantada em inglês certeza que estaria em podcasts de folk indie. ou não?

atualização: por algum motivo desconhecido, o player com a música subiu no telhado. dá pra ouvir aqui.

quinta-feira, 2 de abril de 2009

de que lado você samba?

olha só. lançamento em são paulo da samba, revista de quadrinhos produzida e editada por gabriel góes, gabriel mesquita e lucas gehre, com o apoio da kingdom comics, e que reúne um povo bom lá de brasília. é agora, dia 4 de abril, os endereços tão aí no cartaz feito pelo tiago lacerda (só clicar que aumenta), e eu vou lá garantir meu exemplar. simbora.

mundo livre s.a.

duas notícias ótimas.

no link: "desde novembro, [hermeto pascoal] abriu mão das licenças pela internet e liberou para uso de qualquer músico todas as composições registradas em seu nome. nesta semana, promete disponibilizar parte da imensa e riquíssima discografia (são 34 álbuns) para download gratuito, num processo que chegará em alguns meses à totalidade da produção formal". o disco eu e eles (1999) já está lá, no novo site de hermeto pascoal.

no música e nada mais, a carolina nogueira fala do projeto disco em um dia, que ontem exibiu sua segunda edição no site da panela produtora. os músicos filipe trielli, daniel galli, diego guimarães e edu santana tiveram 24 horas para compor, gravar, mixar e arranjar um cd com, no mínimo, dez canções de dois minutos e meio; e tiveram maurício pereira, beto lee, max de castro, derico sciotti, franklin roolsvelt e ricardo herz como parceiros. o resultado está lá e inclui uma faixa aberta para remixes.

lonely hearts dub band

pronto, o coletivo novaiorquino easy star all-stars finalmente lançou seu terceiro tributo. eles surgiram esfumaçando o pink floyd no bom dub side of the moon (2003). depois vieram com a obra prima radiodread (2006), uma recriação do ok computer (1997) do radiohead. agora, ano de 2009, é a vez dos beatles entrarem na roda do reggae/dub. easy star's lonely hearts dub band (2009) é divertido, mas está longe da genialidade do trabalho anterior e em alguns momentos parece afundar na areia movediça das fórmulas prontas. mas entre mortos e feridos tá tudo certo. quer dizer, ouça aí como ficou a bela, hindu e george harrisoniana "within you withou you", com participação do matisyahu.



e logo abaixo, o video promocional do disco.

quarta-feira, 1 de abril de 2009

45 anos atrás

"Vive a Nação dias gloriosos. Porque souberam unir-se todos os patriotas, independentemente de vinculações políticas, simpatias ou opinião sobre problemas isolados, para salvar o que é essencial: a democracia, a lei e a ordem. Graças à decisão e ao heroísmo das Forças Armadas, que obedientes a seus chefes demonstraram a falta de visão dos que tentavam destruir a hierarquia e a disciplina, o Brasil livrou-se do Governo irresponsável, que insistia em arrastá-lo para rumos contrários à sua vocação e tradições.

Se os banidos, para intrigarem os brasileiros com seus líderes e com os chefes militares, afirmarem o contrário, estarão mentindo, estarão, como sempre, procurando engodar as massas trabalhadoras, que não lhes devem dar ouvidos. Confiamos em que o Congresso votará, rapidamente, as medidas reclamadas para que se inicie no Brasil uma época de justiça e harmonia social. Mais uma vez, o povo brasileiro foi socorrido pela Providência Divina, que lhe permitiu superar a grave crise, sem maiores sofrimentos e luto. Sejamos dignos de tão grande favor."

o início e o final do editorial d'O Globo do dia 2 de abril de 1964. a íntegra está aqui. e 45 anos depois desses eventos, o presidente lula dá entrevista genial para a newsweek durante o encontro do g20.