sábado, 18 de dezembro de 2010

saudades de bill sienkiewicz

meses atrás falei da saudade que bateu de ver trabalhos novos do desenhista italiano tanino liberatore (ranxerox). agora foi a vez de bill sienkiewicz me deixar esse travo amargo na garganta (saudade dá isso?). de meados dos anos 1980 até o início dos 1990, o americano era O desenhista-artista de quadrinhos. um cara que fazia obras de artes com aquele pessoal que se fantasia e sai por aí bancando herói (ou vilão). era como se o sienkiewicz fosse uma versão expressionista do norman rockwell ou um neal adams lisérgico, sei lá. acho que o conheci na sensacional minissérie elektra assassina (1986-87, roteiro de frank miller) e logo depois veio demolidor: amor & guerra (1990, roteiro de frank miller), mas também pode ter sido o contrário. ah, teve também uma inspirada adaptação de moby dick (1990) para a série classics illustrated, e sua versão de o sombra (1987, roteiro de andrew helfer).

arte de moby dick

tive com ele uma grande alegria e algumas frustrações (em termos de posse mesmo). a alegria veio na forma de brought to light (1988), que consegui comprar no início dos anos 1990 e nunca foi traduzido em português. o roteiro é de alan moore e é, basicamente, a história da c.i.a., suas ações e crimes ao redor do mundo. e tudo contado por uma violenta e falastrona águia de terno pink com muita sede de bebida e cocaína. em poucas palavras, um dos melhores quadrinhos que já li na vida (e alguma alma boa, um wikileaks da vida, scanneou todas as páginas, que estão zipadas aqui).

a águia que representa a "companhia" em brought to light

fiquei babando por sua minissérie autoral, stray toasters (1988), mas nunca tive oportunidade de comprar (muito tempo depois consegui ler e é realmente de babar, aê max valeu!). por outro lado, friendly dictators (1989) já passou pelas minhas mãos, só que na época o pão com manteiga valia mais, se é que vocês me entendem. de resto, friendly dictators é uma série de cards altamente políticos com ilustrações (retratos e charges) de alguns dos caras mais amigáveis que já passaram por esse planeta (gente como pinochet, hitler, mobutu, etc). o mesmo aconteceu com o primeiro número de big numbers (1990), uma esperada nova colaboração de sienkiewicz e alan moore. só depois vim a saber que saíram apenas dois números dos doze previstos e a minissérie ficou inacabada. e depois, sienkiewicz? a gente se perdeu, cara!

arte de big numbers

pelo que entendi em seu site oficial (que é bom, tem várias galerias de imagens e até algumas histórias inteiras) e na wikipédia o que aconteceu foi o seguinte. sienkiewicz deixou de fazer quadrinhos (até mesmo autorais) e focou em ilustrações para cinema (storyboards, posters e arte conceitual), música e publicidade, além de capas, muitas capas. lembro de me deparar, surpreso, com seu traço em cartazes para cinema e capas de discos de rappers como rza (bobby digital in stereo, 1998) e kid cudi (man on the moon: the end of day, 2009). agora em 2010 ele assinou "dark echo", animações para o site da série televisiva dexter. uma das poucas exceções quadrinísticas foi voodoo child: the illustrated legend of jimi hendrix (1995). saudades de ver histórias desenhadas por ele. por isso, para sempre lembrar aqui, separei mais algumas coisas de bill sienkiewicz (e link pra uma ótima e grande entrevista feita em 2001 pela comic book resources).

nossa contribuição para a série friendly dictators: o general humberto de alencar castelo branco (1897-1967). curioso terem escolhido ele, mais brando (aê folha de são paulo, um abraço), e não médici ou costa e silva.

capa da excelente estreia de kid cudi: man on the moon: the end of day

um coringa, que isso não faz mal a ninguém

"aposto que elektra não teve que passar por esse tipo de humilhação. mas eu não posso me vangloriar", pensa uma amarrada mulher maravilha (estudo feito em 2005 para uma possível nova parceria com frank miller, a série wonder woman - bondage).

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