quinta-feira, 28 de abril de 2011

yahoo #04

e a nau dos insensatos comentários sobre a minha quarta coluna pro yahoo achou que eu estava defendendo que a pornochanchada voltasse para entrar no lugar dos filmes que estão sendo feitos agora. "logo agora que o cinema brasileiro tá legal", foi o que mais ouvi. o pessoal tem um medo da palavra "sacanagem" que vou te contar... não sacaram que falei mais de um espírito e não necessariamente do "gênero". vai entender. enquanto a isso, tem nova coluna por lá ("a peleja do forró junino").

ah, as histórias que nossas babás não contavam!

VAMOS GOZAR OUTRA VEZ?

Acho que está faltando um pouco de sacanagem no cinema brasileiro. Sinceramente. E quando digo sacanagem não me refiro a sexo explícito, taras obscuras ou fetiches do arco da velha. É mais uma coisa assim à la pornochanchada mesmo, um espírito daquele tempo em que peitinhos conviviam em paz com um humor meio ingênuo, quase infantil, similar a um quadro d’Os Trapalhões. Também pode ser uma loucura ou liberdade ou qualquer outra palavra que se queira dar. Só que sempre com uma pitada de sexo. Não só porque é um bom assunto, mas principalmente porque o Brasil (e o mundo) estão precisando encarar a sexualidade, e sua diversidade, com mais leveza. Repressão cria monstros, e monstros matam, de verdade.

Imagina como seria inusitado assistir hoje em dia um filme como
A Árvore do Sexo (1977), de Silvio de Abreu (ele mesmo, o autor de novelas), no qual uma árvore de frutos muito peculiares causa um alvoroço em uma cidadezinha depois que as mulheres os comem e engravidam. Ou ainda um Kung Fu Contra as Bonecas (1975), de Adriano Stuart (que, pouco anos depois, dirigiria cinco filmes de Didi & Cia., incluindo Os Trapalhões na Guerra dos Planetas). Nesse filme, um mestiço de chinês com pernambucana volta a sua terra natal para vingar o pai que morreu nas mãos de um grupo de cangaceiros gays. É isso, estou falando desse tipo de loucura. Seria ótimo ter novamente um cinema popular como a pornochanchada foi na década de 1970. Louco, livre e bem humorado.



Mas o pessoal da época, tanto a esquerda quanto a direita, não curtia muito uma sacanagem e esse cinema acabou sendo taxado como o grande vilão do abismo que se criou posteriormente entre o público brasileiro e seu cinema. Bobagem. Agora está tudo bem e existem motivos de sobra para se comemorar algumas ótimas bilheterias recentes, principalmente depois da terrível década de 1990. Os dois
Tropa de Elite, Carandiru, os dois Se Eu Fosse Você, Nosso Lar, A Mulher Invisível, 2 Filhos de Francisco, Bruna Surfistinha, Cidade de Deus e Chico Xavier, entre outros, foram responsáveis por um importante amadurecimento comercial do cinema brasileiro e uma nova identidade com seu público. Lindo. Mas tem uma coisa faltando aí. Está tudo muito certinho.

Claro que hoje é impossível haver um cinema popular nos moldes do que aconteceu com a pornochanchada. Existem muito menos salas de cinema, o ingresso é mais caro, uma boa distribuição custa uma fortuna, enfim, filmes assim só poderiam existir numa parceria com videolocadoras e TVs. Ou na internet, talvez. De qualquer forma, seria saudável para o cinema brasileiro atual ter um equivalente em imagens, por exemplo, ao hit “Minha Mulher Não Deixa Não”. O importante é que a sacanagem sobreviva.




p.s.: e falando em pornochanchada, escrevi pra revista monet perfis de dois artistas relacionados a esse tempo do cinema brasileiro: o ilustrador benício e a atriz helena ramos.

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