quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

yahoo #25

bem, agora com a coluna no yahoo nas mãos era a deixa para finalmente falar do big brother brasil. pensei que fosse gerar mais celeuma nos comentários (afinal, gosto do programa de uma forma geral). mas o que faltou em quantidade sobrou na boa e velha agressão virtual de sempre (impressionante como tem gente que deseja que o outro seja demitido). a coluna mais recente, "são paulo, velha e louca", é uma singela pensata sobre a complexa relação entre a música popular de são paulo e o resto do brasil.

o júnior no fuck yeah dementia! 
segundo um comentário aqui, essa foto bizarra é de "um editorial
de uma revista teen, se não me engano foi em 2003. 
O titulo era
os 7 pecados de Júnior e esta foto em questão foi referente a gula."

BBB NO DOS OUTROS É REFRESCO

É isso aí. O assunto do verão está de volta e há pouco mais de uma década no ar, o Big Brother Brasil continua sendo o programa mais comentado, odiado e amado da TV aberta brasileira. Eu assisto desde o primeiro e vi todos, com mais ou menos interesse dependendo de cada edição. Por causa disso e em várias ocasiões cogitei escrever um texto para pelo menos colocar “no papel” algumas das coisas que já pensei sobre a atração – o porquê de gostar dela, o que diz sobre pessoas e entretenimento nos dias de hoje, etc. – e suas várias implicações reais ou virtuais. Chegou a hora.

Uma das coisas que sempre me fascinou no BBB é o trabalho que dá para fazê-lo. Criar e movimentar todo um aparato que tem como objetivo fazer uma dramaturgia ao vivo (e também editada) a partir de milhares de horas gravadas por dezenas de câmeras é um troço muito complexo. E uma dramaturgia que precisa, ainda por cima, gerar assunto, publicidade, dinheiro. Muita coisa ao mesmo tempo. E eu surpreso ao ver como, a cada edição, heróis, mocinhas, vilões, figurantes, loucos e bobos da corte eram construídos para o deleite do telespectador dessa nova espécie de novela. Mas sem jamais esquecer que cada participante também é tremendamente responsável pelo papel que lhe cabe, tanto por suas ações quanto pelos seus silêncios e/ou fingimentos. Ninguém é bobo, por mais que pareça.

Daí fui me surpreendendo ao simpatizar com pessoas que provavelmente não trocaria ideia aqui no mundo real (micareteiros, modelos, lutadores, cowboys e gente que grita “uhuuu”, por exemplo). Baita lição de humildade, pensei cá com meus botões. Mas como qualquer espectador seguia torcendo pra uns, secando outros, afinal aquilo é uma competição e, acima de tudo, um show, um reality show. Mas esse era o meu jeito de gostar do programa, ou pelo menos o jeito que eu explicava a mim mesmo. Sempre foi assim.

Depois de sei lá quantas edições, já em paz com o meu “mau gosto”, comecei a acompanhar na internet, principalmente no twitter e em blogs humorísticos como te dou um dado?, os muitos, grandes e diversos amores e ódios ao programa. O amor é fácil de entender. Uns gostam por ser exatamente o que é, um produto de entretenimento de massa atual, enquanto outros gostam porque também sonham pegar esse atalho para a fama, o dinheiro, qualquer coisa que não dê trabalho, tenha algo de mágico e possa preencher seus vazios.



Os ódios são mais complicados, tem muitas caras e elas vivem se cruzando. Em 2007, o roteirista e cineasta Eduardo Valente (No Meu Lugar) escreveu um texto fundamental sobre o programa. Li na época e bateu com tanta coisa que também pensava que acho que foi por causa dele que demorei tanto para escrever o meu. E aí, lá pelo final de “Por que eu assisto ao Big Brother Brasil?”, Valente diz que “as críticas aos personagens por serem ‘burros’ ou ‘pouco interessantes’ falam mais do preconceito, ou hipocrisia, de quem assiste, e da sua pouca capacidade de enxergar interesse em seres humanos/personagens para além de noções pré-concebidas do que seja a cultura.” Esse é um dos ódios que, em alguns casos, é repulsa pela própria imagem. Às vezes o espelho é difícil de encarar mesmo. Ocasionalmente acho que essa misantropia de alguns comentários é parecida com a do próprio Boninho que, em várias situações (entrevistas, twitter e na própria edição) deixa transparecer um certo desprezo pelos ‘brothers’ e ‘sisters’.

Existe ainda a raiva moralista/elitista dos discursos de direita e esquerda que adorariam que uma medida judicial, ou qualquer coisa parecida, acabasse de vez com o programa. É muita pouca vergonha, é muita falta do que fazer, é uma porcaria, é uma sub-raça (quem assiste e quem está no programa), não devia existir, deviam acabar com essa palhaçada, eu estudei e não preciso disso, e assim por diante. É praticamente o mesmo discurso, mais uma prova que existem mais semelhanças entre esses extremos políticos do que imaginamos. Não consigo entender como a existência de um programa de TV possa vir a ser uma ofensa pessoal a alguém. É impressionante como tem gente que mistura opinião com autoritarismo no liquidificador da sua cabeça e sai por aí dizendo o que as pessoas tem que assistir ou não. E isso porque nem falei o quanto de amor reprimido existe no ódio. 

Mas enfim, não estou aqui dizendo ou insinuando que o BBB é um programa para se gostar. Isso é de cada um, obviamente. É que minha experiência como jornalista me ensinou que gostar ou não gostar de algo não significa muita coisa (a não ser para si próprio) e que o bom mesmo para a profissão, assim como para vida, é ser curioso, interessado, não ter preconceitos (ou pelo menos guardá-los internamente), e muito menos julgar. Quem sabe a gente entendesse melhor o que tem de real nessa novela ambígua.

p.s.: o começo desse BBB 12 entrou para a história do programa com o caso do “estupro” e toda a bagunça gerada tanto pela própria produção, que agiu da pior forma fingindo que nada aconteceu até a polícia bater a sua porta, quanto pelos afobados de plantão que saíram prontos para o linchamento sem nem mesmo entender direito o que rolou por debaixo do edredom (o companheiro de Yahoo, Michel Blanco, escreveu sobre o caso aqui). Houve sim algo de errado, pelo menos um assédio, mas que isso servisse de lição para o programa e seus espectadores, e não para um surto de histeria coletiva com direito até os velhos comentários machistas como “cu de bêbado não tem dono”. Com tantas câmeras na casa, transparência era o mínimo que se exigia no caso. Não foi o que aconteceu.

Um comentário:

Unknown disse...

O problema do BBB não é exatamente as pessoas gostarem ou não. Claro que independente da opinião não cabe censura. Vêm quem quer, quem não gosta pode ir fazer outra coisa na hora, inclusive tomar banho. Na minha opinião o BBB reforça e recoloca esteriótipos, assim como, galhofa do tipo comum que nunca se vê na TV. As novelas e o BBB transformam o brasileiro comum em não exemplo de como se deve ser. Mas diferente das novelas, onde as gostosas estào sempre vestidas, no BBB ao menos as vemos em biquinis minúsculos. Esperar transparência da Globo já é ingenuidade.

Alebaiano