sábado, 25 de fevereiro de 2012

yahoo #29

semana louca essa. não consegui escrever a coluna do yahoo pra quarta-feira (de cinzas) porque estava em trânsito, vindo do retiro carnavalesco, passando por são paulo e indo ao rio de janeiro a trabalho. "o espírito tosco do abadá" acabou subindo no começo da noite de quinta e trata de uma frase infeliz de daniela mercury. segue aqui então a coluna anterior, "arte que desmancha no ar", sobre a "polêmica" do mural d'osgêmeos que foi sumido do mapa em são paulo.

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ARTE QUE DESMANCHA NO AR


A notícia correu durante o dia de ontem como fogo morro acima. Um gigantesco painel-mural feito pela dupla Os Gêmeos em 2009 tinha sido apagado. Ficava na lateral de um prédio que era a sede do Sindicato dos Comerciários e era um oásis de beleza no Vale do Anhangabaú, centro de São Paulo. Mas a justa indignação pelo sumiço de mais um exemplar de arte urbana numa cidade tão carente de cores em espaços públicos acabou levando muita gente a colocar a carroça (no caso de São Paulo, o carro) à frente dos bois. Em tempos que “exigem” de todos opinião sobre tudo e que esta, ainda por cima, precisa ser gritada aos quatro ventos, uma coisa básica foi esquecida: checar a história. Ah, e antes que me esqueça, não, não é preciso ter opinião sobre tudo como muito bem refletiu Alexandre Matias no Estadão.


Mas enfim, quando repercuti a notícia ontem tive o cuidado de não sair culpando ninguém, a não ser o espírito destrutivo da própria cidade, afinal ainda não sabia direito da história. Escrevi isso: “e quando São Paulo pode se orgulhar de ser a terra natal d'Os Gêmeos, alguns dos artistas mais importantes mundiais do mundo, a cidade lhe retribui assim”. No entanto, e com algum motivo, a maioria saiu tacando pedra na prefeitura, em Gilberto Kassab, na política higienista do PSDB e quetais, na falta de cultura do brasileiro e assim por diante. Só que não demorou muito para que recebesse uma mensagem de Pedro Busko desvendando um pouco dos bastidores do acontecido.

Sim, o painel foi apagado porque o prédio será demolido, Os Gêmeos sabiam disso desde o início e “parece que” tinham pedido para apagar o grafite antes da demolição para evitar o pouco investigado, mas muito rentável, mercado negro de arte urbana (uma obra dos irmãos Gustavo e Otávio Pandolfo vale muito, principalmente na Europa). Posteriormente, numa reportagem na Folha de S. Paulo, quase tudo isso foi confirmado oficialmente. A única informação que ficou faltando foi se os irmãos pediram para apagar o painel antes da demolição. O assunto não foi tocado em comunicado publicado no site deles hoje de manhã.

A partir daí a maré virou e os artistas, que há pouco eram vítimas, foram criticados por alguns por essa, digamos assim, “mesquinharia”. “A arte urbana não é efêmera?”, perguntavam. Claro que é, ainda mais em São Paulo, cidade que se canibaliza todo santo dia. Os Gêmeos sabem disso, bem como outros grafiteiros famosos da cidade como Nunca, Nina Pandolfo, Bugre, Vitché, Alexandre Orion, Titi Freak, Speto, Zezão e Herbert Baglione. Tanto sabem que todos estão aliados a fotógrafos que registram suas obras, caso a cidade, tanto na figura da administração pública quanto da iniciativa privada, as engula em nome do progresso.

Em 2006, Gustavo Pandolfo me disse o seguinte, em entrevista para um perfil publicado na extinta TAM Magazine: “Acho que [nossos personagens amarelos] podem sim [melhorar a cidade], mas a cidade precisa ser organizada primeiro. São Paulo é a cidade mais desorganizada que conhecemos. É uma cidade que ao mesmo tempo tem lei, mas não tem lei.” Como se vê, pouca coisa mudou de lá para cá e essa combinação de uma prefeitura que não liga para a população e uma população que só se interessa pelo próprio umbigo despreza uma arte cuja finalidade não é ganhar dinheiro (por isso, falar de “mesquinharia” não procede).

Numa cidade como São Paulo e em tempos bicudos como esses, a arte solitária do grafite (entre outras intervenções urbanas) é o único de jeito de colorir o invisível, mesmo que por alguns instantes.

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