segunda-feira, 23 de abril de 2012

ensino 2.0

na minha busca por veículos para escrever cruzei caminho com a revista continuum, do itaú cultural, e depois de uma rápida troca de emails ganhei minha primeira pauta. aceitei sem pestanejar, claro (baita revista bacana), mesmo não tendo a mais pálida ideia do assunto: mobile learning (educação pelo celular). mas como bem disse o colega sávio vilela no facebook, "isso é uma coisa legal no jornalismo: de repente você se dá conta de um negócio novo do qual nunca tinha ouvido falar e, num estalo, está aprendendo ao mesmo tempo que escreve sobre isso". foi exatamente isso que aconteceu e acho que consegui fazer um texto didático e com ideias sobre uma tecnologia que ainda está engatinhando (mas promete grandes surpresas). ah, "ensino 2.0" é o título da matéria na revista. o que dei é o que segue abaixo junto com a edição do autor-eu-mesmo. agradecimentos aos muy gentis marco aurélio fiochi, que me passou a pauta, e roberta dezan, que editou o texto.




APRENDIZADO SEM FRONTEIRAS


Novas tecnologias aliadas a proliferação dos mais variados dispositivos móveis em todas as camadas sociais no Brasil estão abrindo caminho para uma forma revolucionária de aprendizagem: o mobile learning


Durante séculos e em tudo que é canto do planeta, a estrutura hierárquica entre professores (donos da verdade) e alunos (passivos anotadores) se manteve inalterada, rígida, e isso acabou entranhando no próprio processo educativo, com raríssimas exceções. Mas nesse início de século 21, o que era sólido vem tomando outras formas e não deve demorar muito para a ideia que temos de sala de aula passar por mudanças radicais e a própria aprendizagem se tornar uma intensa via de mão dupla. Curiosamente, os dispositivos móveis (tablets, iPads, smartphones e celulares), grandes inimigos dos professores por seu poder dispersivo, estão entre as ferramentas que terão papel fundamental nesse novo estado das coisas.


“Não é justo que em um mundo em rede tenhamos que aprender com as metodologias de sempre. O mLearning [Mobile Learning] oferece a possibilidade de gerar conhecimento coletivo, de transformar educadores e alunos em verdadeiros produtores de conteúdo, apoiados em tecnologias de criação e publicação”, explica Martín Restrepo, colombiano radicado no Brasil que em 2008 fundou, em sociedade com Érica Casado, a Editacuja, uma editora transmídia que trabalha com projetos educacionais e de produção cultural. “Mas desde então nos aprofundamos no mundo do Mobile Learning e nas possibilidades de, com apoio de dispositivos móveis, fazer de qualquer lugar uma sala de aula”.


O campo para tal empreitada é gigantesco. Atualmente, no Brasil, são 242,2 milhões de dispositivos móveis, o que faz do país o 5º maior mercado de mobilidade do mundo, e Restrepo tem esses números na ponta da língua. Todo esse potencial fez com que este ex-engenheiro eletrônico lançasse no final de fevereiro a MEL (Mobile Education Lab), primeira comunidade colaborativa de projetos educacionais com dispositivos móveis da América Latina, durante o Mobile World Congress (GSMA), em Barcelona.


“Cada dispositivo móvel tem suas oportunidades e limitações. Se pensamos em um celular básico ele possui SMS, voz e recursos multimídia. Só com estes elementos posso desenhar atividades educacionais. Se pensamos em smartphones, temos a possibilidade de trabalhar com aplicativos, internet, mas neles não posso colocar um conteúdo muito extenso, a linguagem tem que ser outra. Com tablets, pelo tamanho das telas, consigo desenvolver livros interativos, com objetos em 3D, animações, infográficos e recursos que posso inserir nas minhas publicações, motivando sempre ao estudante a produzir conteúdo”, diz Restrepo. E essa é a parte mais complexa da história, explicar como se pode aplicar essa tecnologia no dia a dia de novas práticas de ensino enquanto se qualifica professores para utilizá-las.


“Mas o grande desafio não está nos aparelhos e sim no DNA da escola, e por isso que ela deve se preparar para mudar junto com as inovações que nos acompanham hoje”, segue explicando e cita algumas instituições espalhadas pelo país que estão começando a inserir tablets no seu material escolar, entre elas o Colégio Bandeirantes (São Paulo), o Centro Educacional Sigma (Brasília) e Colégio Ari de Sá (Fortaleza). Mas é o Lourenço Castanho, em São Paulo, o pioneiro na utilização do mLearning. 


Alexandre Abattepaulo, diretor geral, afirmou que o colégio paulistano se interessou pela “possibilidade de usar as novas tecnologias móveis como recurso didático diferenciado e não como simples substituto de livros. Outra questão fundamental foi a ideia da mobilidade, por meio da qual se pode ensinar e aprender em qualquer local. Sempre acreditamos que a aprendizagem se dá também fora dos muros da escola, levando os alunos para exposições, museus e organizando viagens de estudo do meio. Será mais uma opção de recurso didático que, se bem utilizada, contribuirá para aproximar o ensino da realidade dos jovens”. 


Fábia Antunes, professora do Lourenço Castanho, fez o curso de capacitação em mLearning e foi surpreendida para além de suas expectativas. “As aulas serão mais interessantes e significativas para os alunos, além do quê o trabalho interdisciplinar será mais viável. Especificamente para a minha disciplina [Educação Física], acredito que essa variedade de recursos multimídia trará mais reflexão sobre as práticas corporais na vida cotidiana”, declara.


A ideia não é substituir os livros e o ensino tradicional por uma infinidade labiríntica de aplicativos. É material complementar, um reforço necessário para um mundo de infinitas possibilidades. Restrepo, por exemplo, tem um sonho: “Imagino uma escola aberta que vai além dos seus próprios muros, se tornando o centro da comunidade e se abrindo ao público. (...) Onde a produção de conhecimento, de conteúdos e atividades faz parte de um imenso repositório coletivo, baseado na co-criação, na colaboração e na aprendizagem em rede. Temos hoje a grande oportunidade de reinventar a educação e a mobilidade está se tornando estratégica para que todo isso aconteça”.


e aqui abaixo segue a versão digital da revista que também pode ser baixada gratuitamente.




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