terça-feira, 17 de abril de 2012

vermelho, o pintor e pai

gosto quando consigo multiplicar uma pauta. em cartaz até julho, a peça vermelho me deu oportunidade de estrear na revista da gol com um perfil do ator bruno fagundes, filho de antônio fagundes. aí, como já iria mergulhar na história desse trabalho sugeri o fagundes pai pra brasileiros (os dois são os únicos atores em cena). fernanda cirenza, redatora-chefe da revista, deu o sinal verde (e ainda me passou outra pauta que já subo aqui) e lá fui eu lutar por alguns poucos minutos exclusivos com fagundes. foi rápido, pouco mais de 6 minutos, mas rendeu o bastante para esse perfil ligeiro. e fagundes foi simpático.

foto daniel klajmic

ETERNO APRENDIZADO

Ele chega todo sorriso à coletiva de imprensa para divulgar sua mais nova peça e vai disparando um “oi” atrás do outro. Antônio Fagundes parece bastante feliz e não é para menos, afinal chega acompanhado de pessoas muito próximas. A seu lado direito, um amigo de mais de 30 anos (“Já deixamos de contar pra não dar bandeira”, brinca), o diretor teatral Jorge Takla. A seu lado esquerdo, o filho mais novo, o ator Bruno Fagundes, 22 anos, com quem divide o palco pela primeira vez em Vermelho, peça que segue em cartaz até julho, em São Paulo.

Ambientada em um estúdio na cidade de Nova York no final da década de 1950, a peça escrita pelo norte-americano John Logan trata da relação de poder, amor à arte, amizade e competição entre Mark Rothko (1903-1970) e seu assistente em um momento particularmente crítico na vida (real) do pintor. Rothko é interpretado por Antônio Fagundes. Ken, o assistente fictício, é vivido pelo filho Bruno. E são apenas os dois em cena, o tempo todo.

“Claro que a gente se identificou com muitas colocações do texto, com algumas crises e problemas que ele [John Logan] levanta, mas acredito que tanto nós quanto a torcida do Flamengo. Qualquer pessoa que tenha um contato mínimo que seja com arte e cultura vai se identificar com esse texto porque ele levanta questões primordiais e de uma forma apaixonada, emocionada, inteira e cheia de humanidade”, disse Fagundes em conversa exclusiva após a coletiva.

Ator com mais de 40 anos de tablado, Fagundes já encarou William Shakespeare, Bertolt Brecht, Dario Fo, David Mamet, Chico de Assis, Edmond Rostand, Roland Barthes e Gianfrancesco Guarnieri. Também já foi dirigido por figuras importantes do teatro brasileiro, tais como Bibi Ferreira, Gerald Thomas, Ulysses Cruz, Augusto Boal e Flávio Rangel. Mas para ele toda peça é um recomeço e Vermelho tem lhe dado um aprendizado particularmente intenso, o que foi confirmado por Jorge Takla (“É muito estimulante trabalhar com atores que pesquisam tanto”).

antônio fagundes, jorge takla e bruno fagundes

Livros, exposições, vídeos, filmes, internet, todo um arsenal de conhecimento foi acionado por Fagundes e seu filho para entender a linha evolutiva da arte moderna no século 20 e o contexto histórico do trabalho de Rothko. Tanto para envolver ainda mais o público, visual e dramaturgicamente, nas discussões da peça, quanto para entender melhor a personalidade forte e atormentada do pintor (que o levaria ao suicídio em 1970, aos 66 anos). “É um personagem magistral porque é completo. Ele permite uma composição [Fagundes está com o cabelo bem curto, quase careca, e sem barba para o personagem], tem um sarcasmo extraordinário e é muito engraçado.”

Mas é no conflito geracional entre Rothko e seu assistente, o incansável duelo entre o velho e o novo, que reside um dos pontos altos de Vermelho, segundo Fagundes. Porém, faz uma importante ressalva. “Tem uma frase que adoro e que ouvi de um livreiro: ‘Você já leu Dostoievski? Não? Então é novo!’ Novo é tudo aquilo que você não sabe, tudo aquilo que você não aprendeu. Tudo é novo desde que você não conheça e tudo é fácil desde que você saiba a resposta”. Antônio Fagundes continua procurando respostas.

p.s.: e aqui um flagra do texto na brasileiros de abril.

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